A questão da água em Caetité
O abastecimento por carro pipa é organizado de acordo com uma lista de pedidos que é gerenciado por uma funcionária contratada pela prefeitura, no mercado municipal de Maniaçu. O Secretário informou que o critério de distribuição é por ordem de chegada, havendo exceções em situações excepcionais, como realização de casamentos. Quanto às denúncias do uso de critérios políticos para o fornecimento de água dos carros pipa, o secretário afirmou desconhecer a situação.
A INB participa da distribuição de água através de carros pipas próprios. Não fomos informados qual é a frequência desse abastecimento.
Por outro lado, todo abastecimento de água da planta industrial da mineradora INB no local, é feito através de poços artesianos. Segundo Hilton Montovani, a INB perfurou 30 poços na região.
Entretanto, populares reclamam da compra, pela INB, de espaços e poços antes utilizados pela comunidade. Além disso, muitos moradores locais dizem ter medo de consumir a água dos reservatórios de chuva, pois temem que a poeira das explosões, acumuladas nos telhados das casas, possam contaminar a água. Muitos afirmaram que perdiam grande parte das águas das chuvas para limpar o telhado.
A qualidade da água em Caetité – A contaminação da água é um dos aspectos mais controvertidos e polêmicos que cercam a mineração de urânio em Caetité. Todos os dados e estudos até então são inconclusivos, restando identificar a existência real de contaminação dos poços artesianos e se esta tem como origem a atividade da INB.
Os problemas se intensificaram com medições feitas pelo Greenpeace e pelo Ingá, realizados em 2009, que originou o fechamento de poços artesianos pelo ministério público. Segundo o Ingá, apesar dos estudos da água dos poços não serem conclusivos a respeito da origem da contaminação, a ação de fechamento dos poços se justifica como uma medida cautelosa, visando proteger a população.
Nas medições do Ingá, foram detectadas a presença de radiação alfa e beta acima do permitido pela portaria 518/04 de potabilidade da água do ministério da saúde.
O Ingá lembra, em nota, que a potabilidade da água das zonas urbanas, que são abastecidas pela Embasa está garantida – somente as águas de poços artesianos localizados em alguns pontos dos distritos rurais de Caetité, Livramento de Nossa Senhora e Lagoa Real.
Uma carta assinada pelos movimentos Paulo Jackson, Comissão Pastoral do Meio Ambiente, sindicatos de trabalhadores rurais e associações comunitárias foi entregue ao Governador Jaques Wagner. A carta solicitava entre outras coisas estudos de impactos ambientais, aparelhos de mamografia e vigilância epidemiológica, toxicológica e radiológica para identificação de enfermidades decorrentes de radiações ionizantes e de doenças profissionais.
Segundo Hilton Montovani, as medições feitas pelo Greenpeace foram feitas sem autorização do CNPq, e que, no relatório Ciclo do Perigo, lançado pela ONG, não existe nenhuma informação técnica de como essa amostra foi coletada, como que ela foi preservada e como ela foi enviada para o exterior. Além disso, ela adianta que um estudo mais aprofundado a cerca dos impactos ambientais do empreendimento, está sendo realizado pela Fundação Fiocruz.
Impactos da Informação – Muitos problemas foram relatados pela população de Caetité em relação aos impactos dos relatórios da INGá a cerca da contaminação das águas.
Primeiramente, o fechamento de postos, sem um acompanhamento do estado, agravou a situação do abastecimento na região. Muitas comunidades que utilizavam a água dos poços foram afetadas. Mesmo outras fontes de abastecimento, como a chuva, começou a ter a sua potabilidade questionada. É clara a confusão da população, causada por falta de informações sobre a qualidade da água, e falta de coordenação dos principais órgãos fiscalizadores (IBAMA, CNEN, INGÁ, IMA) que não conseguem dar uma resposta clara e definitiva para as comunidades.
Uma questão secundária, e nem por isso menos importante, diz respeito a como as notícias foram percebidas pela população dos municípios vizinhos e por visitantes. Muitos populares reclamam de dificuldades na hora de vender produtos agrícolas, carne, leite e derivados. Afirmam que os produtos produzidos nos municípios de Caetité e Lagoa Real sofrem restrições nos mercados locais, muitas vezes sendo o produtor obrigado a praticar preços menores para tornar o produto mais atrativo. O motivo: o medo de que estes produtos estejam contaminados.
Não só na pequena economia rural os efeitos das notícias sobre contaminação são sentidos. Ao que parece, muitos dos donos de pousadas e hotéis, também sentiram um certo impacto das notícias sobre contaminação. Muitos disseram que as pessoas não queriam mais se hospedar em Caetité, como era costume, com medo da contaminação de Urânio.
A Contribuição da Imprensa – O tom alarmante em que foram veiculadas as denúncias do Greenpeace por parte de alguns meios de comunicação parece ter sido o principal motivo que desencandeou este impacto negativo sobre o setor de comércio e de serviços do município. Se por um lado, o Greenpeace não sinalizou as condições que foram realizadas suas amostragens e não deixa clara a dimensão de sua denúncia, por outro muitos veículos não apuraram o fato, principalmente ao não levar em consideração como é organizado o sistema de abastecimento de água de Caetité.
A água que é distribuída na zona urbana de Caetité, por exemplo, é gerenciada pela Embasa e vem da Bacia do Rio São Francisco, separada da origem e da forma de distribuição feita nos povoados rurais. Nestes últimos, a distribuição de água é feita pela prefeitura em parceria com a Companhia de Engenharia Rural da Bahia (CERB), órgão estadual responsável pela perfuração de poços artesianos.